Na experiência histórica chilena, o Wallmapu era comumente descrito pelas autoridades criollas como uma região situada “à margem da civilização”, já que no século XIX, constituía um espaço de exercício de soberania de grupos mapuche. O objetivo deste artigo é analisar as respostas elaboradas pelos mapuche diante dos movimentos expansionistas que pretendiam incorporar o Wallmapu à órbita do poder estatal chileno, ressaltando o papel dos indígenas como sujeitos capazes de se adaptar e resistir às políticas criollas.
Os estudos sobre a cidade antiga repousam em uma longa trajetória no ambiente historiográfico moderno. Esse artigo trata de dois marcos temporais em duas obras, de um ponto do século XIX a outro do XX, do trabalho seminal de Numa-Denis Fustel de Coulanges ao de François de Polignac. A relação entre a polis e a religião alimenta o exercício comparativo intuído por esse trabalho. Se Fustel de Coulanges faz uma avaliação protofuncionalista de uma cidade que se estrutura nos organismos coletivos decisórios da política e da religião, Fustel de Polignac, contemporâneo ao giro material que inspirou uma nova perspectiva de abordagem, investe em uma análise que organiza a cidade e suas relações sociais na distribuição espacial dos seus tempos nos espaços da khôra e da asty. É, portanto, a partir desses dois pontos da historiografia moderna da Antiguidade que esse trabalho pretende tecer alguns comentários relativos à própria pesquisa da cidade grega antiga, a pólis.
O objetivo principal deste ensaio é ter a história da historiografia como caminho para reconstruir parte do horizonte da redemocratização, em diálogo com alguns livros que estão presentes na formação de historiadores desde a década de 1990. A atualidade e permanência da produção destes anos sugere a continuidade de um horizonte histórico. O ensaio realiza então três movimentos: 1) a compreensão da redemocratização como reconstrução de um horizonte; 2) a crise do conceito “ideologia” como sintoma de uma transformação mais ampla; 3) algumas respostas da historiografia à redemocratização. A questão é saber como democracia e historiografia se reorganizaram se abrindo para “novas personagens” e para um horizonte histórico em movimento.
O presente artigo tem como objetivo observar a imagem turística do Rio de Janeiro nos primeiros anos do século XX, durante as reformas urbanas na capital-federal (1903-1906) realizadas pelo prefeito Pereira Passos e pelo presidente Rodrigues Alves. Para tanto, investigamos três guias de viagem publicados nesse período. Pretende-se assim, contribuir para uma reflexão que coloque em perspectiva histórica o momento inicial de consolidação do Rio de Janeiro como destino turístico. |
Este artigo analisa um fenômeno intelectual – a psicologia positiva – a partir das relações que este estabelece entre as hierarquias disciplinares universitárias e outras plataformas de consagração. Através de uma análise do estatuto da psicologia positiva e de sua história institucional, o artigo almeja contextualizar os desafios que tal projeto impõe não apenas aos debates teóricos do campo da psicologia como, também, às fronteiras entre universidade e mercado. Para tanto, foram levados em consideração os processos de institucionalização da psicologia positiva nos Estados Unidos e no Brasil, bem como as críticas elaboradas em ambos os contextos.
A consolidação da história como uma disciplina na tradição ocidental foi responsável pela constituição de métodos, teorias e protocolos que buscavam afirmar seu caráter científico. Essa configuração da história científica no século XIX teve outras consequências como a instituição de mecanismos de controle da produção de conhecimento, bem como o fortalecimento de uma imagem pretensamente universal da humanidade como seu produtor autorizado. Pretendo refletir sobre o caráter disciplinar da história a partir de teorização acerca do conceito de experiência, que será considerado a partir das obras de Walter Benjamin, Judith Butler e Nelly Richard. Para tal, será analisada a importância dos relatos de experiência para a constituição de uma comunidade de escuta, a fim de pensar sua pertinência para as aulas de história e as narrativas historiográficas não hegemônicas. Em seguida, refletiremos sobre a historicidade do conceito de lugar de fala e as consequências ético-políticas das diferentes maneiras de experimentar o passado.
O interesse na formação literária e nos sentidos do Modernismo foi compartilhado por Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) e Antonio Candido (1918-2017). No entanto, ambos produziram panoramas da literatura nacional que, a despeito do acabamento ou inacabamento, demonstram resultados discretamente distintos. Se, por um lado, Candido propõe uma historiografia literária sentimental, pautada na transição das preceptivas clássicas para
emergência de uma sensibilidade local, de outro, Sérgio Buarque organiza sua historiografi a literária por meio da tópica, tornando-a o eixo analítico de seu panorama erudito. Em ambos os casos, a historiografia literária articula-se com o momento da superação de uma sensação de desterro, identificada nas raízes ibéricas ou na literatura comum. Todavia, o desejo compartilhado de descrever/engendrar a superação da sensação de desterro acaba por
indicar formas diferentes de se compreender a expressão barroca e, por conseguinte, ritmos narrativos distintos na formação literária nacional, oscilando entre morosidade e aceleração.
Palavras-chave: Sérgio Buarque de Holanda; Antonio Candido; historiografi a literária;
Barroco; amizade.
O artigo examina as relações entre os sujeitos da aprendizagem, tanto o estudante quanto o/a professor/a, e a mobilização do conceito de democracia na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) correspondente à etapa do Ensino Médio, com destaque para a área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas na versão final de 2018. A partir das circunstâncias históricas de produção dessa versão final da BNCC e da delimitação teórica dos dilemas que afetam as subjetividades contemporâneas, é analisado o modo pelo qual o conceito de democracia figura no texto da base curricular mencionada. Constata-se que a democracia é situada como regulador das aspirações ético-políticas de estudantes, sob o viés, no entanto, de horizonte de estabilidade política, desprovida de historicidade, esvaziando assim a agência e o enfrentamento da crise contemporânea pelos sujeitos da aprendizagem.